terça-feira, 27 de novembro de 2012

Regenerar Braga - Rua dos Chãos, um cenário desolador

Após as afirmações de Vítor Sousa demonstrando intolerância perante atrasos, apesar de não terem sido efetuados quaisquer trabalhos arqueológicos prévios às intervenções, as obras avançam a toda a velocidade sem que se vislumbrem grandes preocupações arqueológicas.

Na manhã de sábado dia 23 de novembro, o cenário era desolador, de retro-escavadora as pedras eram arrancadas, a galeria invadida por manilhas e tubagens e de seguida aterrada...

À medida que a galeria foi desfeita, ficaram cada vez mais visíveis as pedras da conduta, perfeitamente emparelhadas e niveladas nas paredes da galeria. 
As Sete Fontes no centro histórico!




A conduta nas Sete Fontes.
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A conduta na Rua de S. Vicente, em Maio.


Segundo alguns arqueólogos, as pedras das Sete Fontes presentes na Rua de S. Vicente e Rua dos Chãos, não tiveram qualquer função desde que foram colocadas na posição atual, sendo apenas um reaproveitamento para a construção da galeria.

Porém, se não tinham qualquer função, porque estão niveladas, emparelhadas e com todos os orifícios de limpeza da conduta virados para a galeria?

Parece muito mais plausível a hipótese de terem funcionado naquela posição, sendo a galeria inicialmente utilizada para a limpeza da conduta, e posteriormente, após ter caído em desuso, terem sido removidas algumas das peças da conduta enquanto a galeria era utilizada para a colocação das novas canalizações, tal como nas intervenções de "Regenerar Braga".

O estudo arqueológico seria importante, mas não parece ter interesse nestas obras de "Regenerar Braga", pelo que o conhecimento que se poderia adquirir, será quase nulo.

Vítor Sousa fala que as pretensas destruições só poderão ser um mero exercício de imaginação, outros falam de reservas arqueológicas, mas na verdade as reservas arqueológicas de Braga acumulam-se no além, basta olhar para a lista de destruição nos últimos 35 anos.

Lamentável que a UAUM cada vez publique menos relatórios e tenha deixado de responder às questões dos cidadãos. Lamentável também que perante a tentativa de defesa do património por parte de associações se indignem, mas perante o abandono e destruição por todo o sistema das Sete Fontes, ou perante a destruição em São Frutuoso,  nada se leia da UAUM... 

Não estará mais uma vez, Braga a desprezar e a desvalorizar irreversivelmente um monumento nacional?

Tudo isto em pleno centro histórico, onde se poderia ter recuperado e colocado visível a todos os turistas, visitantes e residentes, valorizando a Rua dos Chãos e a Rua de São Vicente, e valorizando todo o conjunto monumental das Sete Fontes. 
Em vez de um mero arranjo de superfície e instalações de condutas, que dentro de 30 anos estarão desatualizados...

Continuaremos com a política de curto prazo e de desprezo pelo património?
A política das promessas de mais investimento no património e nos parques urbanos em ano eleitoral e o abandono dos mesmos logo após as eleições? 

O que pensam os bracarenses em relação a este assunto?
Entende que a recuperação, valorização e exposição da conduta, do sistema das Sete Fontes, na Rua dos Chãos e Rua de São Vicente, seria?
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11 comentários:

  1. Respostas
    1. Em Setembro de 2012 quando os questionei para os primeiros achados, nada responderam, tal como a UAUM.
      http://bragaon.blogspot.pt/2012/09/regenerar-braga-achados-arqueologicos.html

      Agora foram novamente questionados, aguardo resposta.

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  2. Excelente artigo, apoiado por fotos,assim todos entenderão mesmo que não entendam de arqueologia, património,....As gerações futuras saberão como A Democracia funcionou em Braga durante muitos anos, em que o Património foi "destruído" apesar de haver técnicos com formação académica para informar os incultos na matéria.Também saberão que a unidade de arqueologia da UM prestou um mau serviço a comunidade, apesar destas decisões serem também politicas.Como menciona na Rua S. Vicente, fomos os primeiros a "SOFRER" deste ataque ao património, infelizmente.

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    1. Muito obrigado pela mensagem. Só com o apoio e contributo de todos podemos mudar o que está mal nas instituições que deviam salvaguardar o nosso património.

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  3. A Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho é uma instituição que foi criada para estudar e salvar Bracara Augusta e tem actuado desde 1976. No projecto Bracara Augusta tem investido o seu tempo e trabalhado muitos arqueólogos e outros colaboradores. Globalmente os resultados são positivos. Claro que ocorreram erros. No caso do processo Regenerar Braga eu entendo que a intervenção, conforme se deduz das fotos, é brutal e condenável. Outros arqueólogos do projecto poderão entender o contrário e não dialogar com a cidade. No meu entender seguem por mau caminho. O primeiro objectivo da Arqueologia é a relação com a comunidade onde trabalha. Não se pode confundir a UAUM com este ou aquele arqueólogo. O estudo de Bracara Augusta e do seu território ultrapassa em muito qualquer personalidade. Não terminará amanhã e continuará por muitas décadas considerando a riqueza da capital da Gallaecia e a necessidade de se conhecer em profundidade o seu território.

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    1. Compreendo a exposição que aqui faz, mas a UAUM é referida nos seguintes pontos:

      "Lamentável que a UAUM cada vez publique menos relatórios e tenha deixado de responder às questões dos cidadãos."
      Pois bem, a UAUM deixou de publicar os relatórios no seu site e no repositorium, após publicar relatórios relativos à Avenida da Liberdade, Quarteirão dos CTT, Convento de São Francisco com excelentes sugestões à CMB, das quais quase nenhuma foi até hoje executada. A partir de então conhecemos diversas intervenções e os relatórios perliminares e finais ainda não são conhecidos.
      Também relativamente a questões que eu próprio levantei no passado e no presente, posso assegurar que deixei de obter as respostas que obtinha no passado.

      "Lamentável também que perante a tentativa de defesa do património por parte de associações se indignem, mas perante o abandono e destruição por todo o sistema das Sete Fontes, ou perante a destruição em São Frutuoso, nada se leia da UAUM... "
      São públicas as declarações do responsável científico das obras do Largo Carlos Amarante, onde a responsabilidade da intervenção arqueológica era da UAUM, tendo nessa ocasião falado em nome da UAUM, através da indignação e com o uso de termos menos próprios.
      Também é público o comunicado que a UAUM fez no âmbito das obras do novo Hospital e referidos acessos, questionando a capacidade que teria a empresa de arqueologia em questão para coordenar os trabalhos.
      Porém relativamente às diversas intervenções de "Regenerar Braga" (Rua dos Chãos, Rua de S. Vicente, …) e também em São Frutuoso, a postura ativa não se verificou.

      A UAUM sobreviverá a este ou aquele arqueólogo, a este ou aquele responsável, tem a sua história e terá o seu futuro. Contudo os cidadãos se pretendem ver o património de Braga preservado, devem agir no presente, pedindo explicações e mudanças de atitude, caso a atuação esteja desconforme com a história e com o que se pretende da UAUM.

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    2. Ao último parágrafo com o qual concordo julgo que será de acrescentar "A UAUM e Bracara Augusta". A intervenção activa dos cidadãos na defesa do património da cidade é uma componente essencial do Projecto de Estudo e Salvamento de Bracara Augusta. Aliás foi graças à CODEP antecessora da ASPA que principiou o projecto.

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  4. Já o disse em muitos foruns e blogs e volto a afirmar neste que, na minha prespectiva o projecto de Salvamento de Bracara Augusta é um projecto falhado. Afastamo assim da posiçao aqui veiculada pelo Dr. Francisco Sande Lemos do qual tive a honra de ser aluno e que considera positiva a actuação da UAUM neste projecto.
    Primeiro e passados mais de 3 decadas do incio do projecto temos uma cidade onde todos os dias se continua a atentar ao patrimonio sem que este seja, no minimo estudado. Na verdade um projeco de salvamento arqueologico não se pode limitar a realizar intervenções arqueológicas pontuais quando se é convidado para executar esse trabalho. Um projecto de salvamento é algo mais de profundo, pressupoe a criação de uma estratégia de salvamento e não apenas o acuidir a problemas pontuais. Essa estratégia deveria estar consignada numa carta de risco (sei que o dr. Sande Lemos já a defendeu em vários artigos) a integrar por exemplo no PDM da cidade. A verdade é que com toda a dimensão e peso da UAUM tal carta nunca foi nem elaborada quanto menos aprovada. Temos assim zonas da cidade, como por exemplo, a Praça dos Bombeiros (junto ao centro de Saude das Carvalheiras) que não se encontra abrangida por nenhuma ZEP. Assim qualquer empreiteiro que pretenda lá construir não necessita sequer de autorização da DRCN. Estranho pois que pasdsados 30 anos de projecto esta área de Bracara Augusta (Forum Romanop) não esteja “ a salvo” de um empreiteiro pior intencionado. A verdade é que o peso da UAUM não serviu para a criação deste instrumento de prevenção patrimonial que é a carta de risco mas vai ser PARA RECEBER UM LOUVOR POR PARTE DE MESQUITA MACHADO E DA CM DE BRAGA.
    No mínimo é uma situação ridiucla quando sabemos que as destruições sucessivas de patrimonio em Braga estão a cobro desta gestão camarária que curiosamente tem tb mais de 3 decadas.

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  5. Os êxitos e os fracassos do Projecto de Bracara Augusta são um tema interessante. Pessoalmente estou disponível para discutir essa matéria em qualquer debate público. Pessoalmente orgulho-me dos resultados alcançados mas reconheço as fragilidades. Julgo que sobrevaloriza a importância da UAUM no processo dos licenciamentos. Durante décadas a fio a CMB fez todos os possíveis para sabotar o projecto e contou muitas vezes com a conivência do poder central. Tanto quanto eu sei nunca tive a "honra" de ser louvado pelo eng. Mesquita Machado.

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  6. Após tomar conhecimento desta situação e depois de termos alertado para a mesma no blog da JovemCoop, (http://jovemcoop.blogspot.pt/2012/09/rua-dos-chaos-ordem-para-preservar.html), lembramos que a posição dos serviços camarários foi "ordem para preservar). Nas fotos não se vislumbra uma preservação, mas um desrespeito e uma destruição.

    Aquilo que deve ser questionado, junto das entidades, é a metodologia instituída e pressionarmos para apresentarem, rapidamente, os resultados das intervenções.

    Mas, infelizmente, temos de estar preparados para duas situações. A primeira é a conivência e "branqueamento" da DRCN quanto aos processos metodológicos da UAUM/GACMB - já vimos isso noutras vemos, sendo exemplo mais recente o caso dos novos acessos de Real, ou relembrando as Sete Fontes.

    A segunda situação prende-se com o moldar de dados, tendo em conta que basta os técnicos da UAUM/GACMB dizer que não apareceu nada de interesse, que a tutela validará e perderemos aqui o sustento das nossas argumentações.
    Aquilo que podemos perguntar é porque se escolheu tal metodologia (acompanhamento pobre e pouco presente) e quais as avaliações aos vestígios exumados e porquê reenterra-los.

    Penso que um dos problemas do projecto Bracara Augusta é centrar-se nos vestígios romanos, esquecendo outras cronologias, e intervenciona-los para registar e não para torná-los fruíveis aos público (admito que nem tudo é possível musealizar e estar a usufruto do público, mas olhando para a página das intervenções da UAUM (http://www.uaum.uminho.pt/estrutura/galeria_imagens.htm), podemos rapidamente fazer o balanço do que ficou preservado e do que foi destruído...a balança da preservação fica deficitária, além de que a página está muito desactualizada, logo podemos, desde já, pensar que mais vestígios arqueológicos terão sido destruídos.

    Seria útil podermos vir a debater publicamente os resultados de mais de três décadas do Projecto Bracara Augusta. Penso que poder-se-ia, inclusivé, pensar num novo modelo de gestão do património de Braga, desde a intervenção arqueológica até à promoção turística.

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  7. Caro Prof. Dr. Francisco Sande Lemos,

    Aqui esta como já lhe tinha dito a UAUM recebeu ontem um louvor por parte da CM Braga
    http://jovemcoop.blogspot.pt/2012/12/o-nao-reconhecimento-do-municipio.html

    Agora pergunto. Acha compreensivel do ponto de vista da deontologia e etica profissional de um arqueologo aceitar um louvor por parte de uma instituição (CMBraga neste caso) que foi responsavel durante decadas pela destruição de sitios arqueologicos em Braga???

    Sei que não me responderá a esta questão e compreendo-o até. Sei e reconheço que o estimado Prof. não tem nada a ver com o que a UAUM tem feito nestes ultimos anos.

    Caro Ricardo,

    O desafio foi lançado pelo Prof. cabe À Jovemcoop ou à Nova Associação agendar este debate. Não sei se a direcçao da UAUM / GACMB estrão disponiveis.... mas... nao custa tentar...

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